domingo, 27 de maio de 2012

A orientação de pais na terapia infantil

por Patrícia Serejo


 
A Orientação de Pais (O.P.) é uma modalidade de atendimento infantil que pode ocorrer de forma exclusiva ou complementar ao atendimento da criança. Ela é caracterizada por sessões nas quais o(s) responsável(is) pela criança participa(m) diretamente e discute(m) com o terapeuta estratégias de modificação do comportamento da criança. A terapia comportamental infantil quase sempre envolveu os pais no processo terapêutico de uma criança. E tal envolvimento não é característica única da análise do comportamento. Outras abordagens também o fazem. Dentre seus motivos principais podemos destacar a grande influência parental, positiva ou negativa, no comportamento das crianças, bem como a grande proporção de tempo que as crianças passam em ambiente familiar, fazendo com que suas dificuldades se expressem com mais freqüência neste ambiente.Para a análise do comportamento, a O.P. está de acordo com suas premissas e, desta forma, se torna muitas vezes indispensável para o sucesso da terapia infantil. Acreditamos que o comportamento infantil, seja ele adequado ou não, é resultado da interação do organismo com o contexto histórico e imediato. Ademais, deve ser reforçado pelas alterações que provoca no ambiente para ser mantido. Partindo destas premissas, a O.P. pode ser uma das maneiras mais efetivas de modificação das contingências familiares que determinaram e mantêm o comportamento da criança.São os pais os que têm mais condições de alterar as contingências controladoras pois dispõem dos reforçadores envolvidos em tal manutenção. Mesmo com a aceitação quase inequívoca da importância da O.P. na terapia infantil, não são todas as famílias que se adaptam a esta modalidade de atendimento. As regras sociais quanto ao desenvolvimento dos comportamentos infantis muitas vezes fazem com que os pais descartem sua influência na manutenção dos mesmos. Estes pais podem ser tornar muito resistentes à O.P. Cabe então ao terapeuta ter argumentos fortes o suficiente, e vínculo de confiança estreito, para convencê-los de que mais efetividade pode ser alcançada no tratamento com sua participação. Da mesma forma, vale ressaltar que os comportamentos, mesmo quando inadequados, fazem parte de um sistema. Assim, um ‘distúrbio’ de comportamento de um dos filhos pode ser extremamente reforçador para o sistema familiar, o que ao mesmo tempo acrescenta importância à O.P., mas torna todo o processo terapêutico mais complexo.Acreditamos que os comportamentos são desenvolvidos de acordo com as oportunidades oferecidas pelo nosso ambiente. Assim, um déficit comportamental infantil que está trazendo sofrimento para a criança e para sua família pode ser considerado como decorrente da falta de habilidade de ensino dos comportamentos adequados pelos pais. Assim, a O.P. pode favorecer a modificação do comportamento do filho pela superação das dificuldades dos pais em ensinar tal comportamento.Uma criança que expressa alguma dificuldade no ambiente familiar está, sob nossa perspectiva, tentando resolver um problema e não criar um. Portanto é indispensável que o terapeuta faça uma avaliação bem extensa do ambiente familiar até que discrimine o que a criança está tentando resolver, de forma rudimentar, devido a limitações de seu repertório comportamental. Muitas vezes a participação ativa dos pais é imprescindível para realizar esta avaliação, uma vez que o repertório verbal da criança ainda é limitado. Este modelo é semelhante à idéia de que o comportamento-problema é um sintoma. Entretanto, não compartilhamos a idéia de que se trata de um problema interior ou de personalidade identificado pelo sintoma. Interpretamos o comportamento da criança como um ‘sintoma’ de uma inter-relação com o seu ambiente que influencia tal comportamento. Desta forma, pode ser apenas um paliativo lidar diretamente com o comportamento-problema sem descobrir suas causas ambientais. E como as causas estão no ambiente, modificá-lo diretamente pode garantir mudanças no comportamento do qual é função. Por fim, a O.P. apresenta uma grande vantagem em relação à generalização das mudanças comportamentais. Ao se trabalhar com os pais e estes com a criança, observa-se mudança terapêutica no ambiente natural, o que é mais fácil de ser mantido e ainda generalizado para novos ambientes. Ocorre também generalização das mudanças apresentadas pelos pais, que tornam a relação com os filhos mais adaptada e produtiva, evitando problemas futuros e, no advento deles, tornando-os mais autônomos para resolvê-los. A análise do comportamento, no entanto, não prega nenhum tipo de atendimento a priori. Não há forma preestabelecida ou unificada de ação dentro da terapia analítico-comportamental infantil. Cabe a nós, terapeutas, buscarmos formação e informação para acrescentar ao nosso repertório profissional para que, a cada novo caso, sejamos capazes de realizar uma avaliação funcional compreensiva e utilizar os melhores instrumentos disponíveis.

Texto baseado em Silvares, E. F. M. "Por que trabalhar com a família quando se promove terapia comportamental de uma criança".

quarta-feira, 23 de maio de 2012

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL PARA CRIANÇAS

Nem sempre infância significa um período livre de preocupações e sofrimento. Não raramente os pequenos chegam aos consultórios de psicologia quando apresentam problemas que ultrapassam o entendimento dos pais e da escola.
Sabe-se que dificuldades são desafios inerentes ao crescimento, mas é necessário atenção aos sinais que indicam que os problemas podem estar prejudicando o desenvolvimento normal.
Muitas vezes a morte de um familiar querido, a separação dos pais, mudança de cidade, chegada do irmãozinho, são suficientes para provocar sofrimento na criança. Brigas constantes, desobediência e agressividade podem corroer as relações entre pais e filhos e criar um círculo vicioso de agressão e culpa. Dentro deste contexto, muitos pais procuram a Terapia Comportamental Infantil.
A Psicoterapia Cognitivo-Comportamental Infantil visa desenvolver, na criança, meios para que ela possa lidar com o mundo a sua volta de forma saudável. Com o compromisso de ajudar a família a interagir e a participar de todos os processos de aprendizagem pelos qual a criança passará e promover o bom relacionamento entre pais e filhos.
Geralmente, os encaminhamentos são feitos por pais, professores e familiares quando estes observam alta freqüência de comportamentos disfuncionais tais como morder, gritar, chorar, destruir objetos, chutar e empurrar pessoas, mentir ou roubar. Outras crianças chegam porque têm dificuldades para fazer amigos, são muito quietas, tímidas, ansiosas, muito tristes ou agitadas. Crianças que adoecem muito, que não obedecem aos pais, que desenvolveram obesidade, que têm enurese noturna, aquelas que têm dificuldades de aprendizagem ou de atenção também podem ser ajudadas pela psicoterapia cognitivo-comportamental infantil.
Durante a terapia o atendimento é feito de maneira delicada e lúdica onde a criança pode sentir-se à vontade com atividades adaptadas para sua faixa etária tais como pinturas, desenhos, jogos e histórias, com o objetivo de criar uma relação de afeto e confiança entre a criança e o terapeuta. As sessões são oportunidades para que ela fale de seus medos, seus desejos, pensamentos e sentimentos, assim como torna possível que o terapeuta observe seus comportamentos e desenvolva na criança novas habilidades comportamentais.
O trabalho do terapeuta na psicoterapia cognitivo-comportamental infantil estende-se aos familiares e à escola. As relações que a criança estabelece com as pessoas próximas em sua vida são extremamente importantes no processo de aprendizagem. Isto significa que para haver mudanças comportamentais na criança, a família e as pessoas que a cercam também precisam mudar. Durante este processo os pais fazem parte do foco de intervenção e é sua tarefa observar as circunstâncias nas quais os comportamentos dos filhos ocorrem e as conseqüências dos mesmos, tentando fazer relações funcionais que serão discutidas com o terapeuta, assim como observar seu próprio comportamento e entender de que forma os pais podem estar contribuindo para a manutenção do problema.
Uma infância saudável é essencial para o desenvolvimento pleno do adulto. Perante tantas mudanças sociais e familiares que temos enfrentado atualmente, é essencial que o adulto esteja atento às necessidades psicológicas das crianças. Diante das dificuldades, o processo terapêutico pode ser um grande aliado no resgate da saúde mental das crianças e das relações de afeto entre pais e filhos.

A NATUREZA DA ANSIEDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 

O medo é uma experiência humana universal; para crianças, adolescentes e adultos ele pode servir como uma resposta adaptativa em muitas situações. Os medos em jovens são comuns, transitórios e sua aparência e resolução podem ser vistas como parte de um processo de desenvolvimento normal. Assim, a mera presença de medos não é um indicador de psicopatologia, podendo, frequentemente, ser necessários ao desenvolvimento normal. Em outros momentos, as reações de medo e ansiedade podem ser um impecílio ao desenvolvimento. As diferenças entre medo, fobia e ansiedade são importantes para clarificar o quadro diagnóstico. O medo é visto como uma resposta a uma experiência circunscrita de ameaça, em oposição à ansiedade, que é considerada uma resposta menos diferenciada a um estímulo difuso. As fobias são medos severos e implicam em padrões comportamentais de fuga persistente. Os medos são parte do desenvolvimento normal e emergem e recuam inteiramente. Uma categoria separada das desordens de ansiedade foi introduzida no DSM II. Três subtipos foram identificados: Desordem de Ansiedade de Separação, Desordem de Fuga e Desordem de Ansiedade Excessiva. Embora as desordens possam se sobrepor, cada subtipo tem características distintas. A Ansiedade de Separação envolve ansiedade em relação à antecipação da separação de crianças mais velhas ou da figura de ligação. Ela inclui perigo iminente e preocupação com a morte que resulta em atividade reduzida longe de casa. Timidez extrema e afastamento de novas situações ou pessoas caracterizam a Desordem de Fuga, onde a ansiedade é mais forte e cotidiana, permanecendo além do período de desenvolvimento. A Desordem de Ansiedade Excessiva é uma ansiedade generalizada que inclui medo de avaliação, auto-consciência e ruminação acerca do passado ou futuro, Do ponto de vista clínico, em oposição ao empírico, muitos consideram estas distinções passíveis de mudanças.
Vários dados sugerem que a mudança no conteúdo dos medos, ao longo do tempo, reflete a crescente experiência da criança do mundo e o aumento de sua percepção da realidade. Os medos das crianças envolvem desde conteúdos globais imaginários, incontroláveis (monstros) até conteúdos específicos, diferenciados e realistas, tais como aceitação social e desempenho escolar . Os medos podem ser uma forma de a criança lidar com obstáculos com os quais ela se confronta . Além das mudanças de desenvolvimento no conteúdo do medo, mudanças quantitativas também ocorrem. Em geral, a pesquisa sugere um decréscimo no número de medos com o aumento da idade . Mas, mesmo adolescentes mais velhos (16-18 anos) relatam medos. Diferenças sexuais no número de medos foram descobertas. Tanto relato materno quanto auto-relato mostraram uma prevalência maior de medos entre meninas (Bauer, 1976; Lapouse e Monk, 1959; Olledick et. al., 1985). Entretanto, expectativas de papéis sexuais ou outros fatores socioculturais podem determinar estes relatos (Bauer, 1976; Ollendick et. al., 1985).
Apesar da idade e nível de desenvolvimento ditarem algumas dimensões dos medos infantis, as diferenças individuais existem. Campbell (1986) propôs que influências como temperamento, contexto e experiência passada podem determinar a forma que os medos assumirão ( pesadelos, medo de molhar a cama, acessos de raiva, afastamento social, comportamento agressivo).
Os clínicos e pesquisadores vêem a ansiedade infantil como um constructo multidimensional que possui manifestações fisiológicas, comportamentais e cognitivas. As respostas motoras na ansiedade são importantes e têm sido objeto de pesquisa (Barrios e Hartmann, 1988). Os componentes motores comuns da ansiedade incluem fuga, voz trêmula, postura r;ígida, choro, roer unha e chupar dedo (Barrios e Hartmann, 1988). As reações fisiológicas incluem: aumento na atividade nervosa automática, transpiração, dor abdominal difusa (“borboletas no estômago”), rubor, necessidade urgente de urinar, tremor e desconforto gastrointestinal (ver também Barrios e Hartmann, 1988). Uma variedade de pensamentos de crianças ansiosas têm sido descritos; estes incluem pensamentos de ser assustado ou ferido, pensamentos de auto-crítica, ou pensamentos de perigo. Entretanto, até recentemente, poucos trabalhos empíricos têm examinado as cognições em crianças clinicamente ansiosas. Francis (1988), em sua recente revisão das cognições de crianças ansiosas, concluiu que “nenhuma afirmação definitiva sobre as cognições de crianças ansiosas pode ser feita”(p.276). Estudos usando amostras não clínicas de medos circunscritos, como teste de ansiedade (Zatz e Chassin, 1983, 1985), ansiedade de separação (Prins, 1986), ou ansiedade de dentista (Prins, 1985), descobriram que alta ansiedade está associada com cognições auto-referentes negativas. Exemplos incluem: “Eu vou estragar tudo”, “Eu vou me ferir novamente”. Já baixa ansiedade está associada com uma frequência menor de pensamentos negativos, o que Kendall (1984) chamou de “poder do pensamento negativo”. Usando uma escala desenvolvida recentemente, Kendall e Ronan (1990b) identificaram um conjunto de auto-afirmações que caracterizam as crianças ansiosas.
Kendall (1985) propôs, ainda, a distinção entre distorções cognitivas e deficiências cognitivas na conceitualização da psicopatologia infantil. As deficiências referem-se a uma ausência de pensamento onde seria benéfico (e. g., agir antes de pensar). Os déficits no processamento de informação envolvem uma falha da criança em se engajar na previsão e planejamento da ação. As distorções refrem-se a um processo disfuncional de pensamento (e. g., exagerar uma ameaça ao eu). Na processamento distorcido da informação, o indivíduo está atento para as questões sociais ou do meio ambiente e está processando ativamente estes dados, mas o processamento é disfuncional (distorcido) e desadaptativo. As separações baseadas nestes critérios ajuda a clarificar a natureza da disfunção cognitiva em uma série de desordens psicológicas. Por exemplo, as crianças ansiosas parecem preocupadas com as avaliações sobre si e sobre os outros e com a probabilidade de uma série de consequências negativas. Elas parecem compreender erradamente as demandas do meio ambiente. Ao mesmo tempo, elas não parecem ser deficientes no processamento da informação.
A avaliação e tratamento das desordens infantis tem uma característica única: o processo de avaliação deve levar em conta as mudanças decorrentes do desenvolvimento da criança ao longo de sua vida. As mudanças cognitivas, socioemocionais e biológicas são diferentes numa criança de 8 ou 9 anos em relação a uma criança de 12 ou 13 anos. Já o tratamento cognitivo-comportamental dessas desordens infantis segue certos parâmetros que discutiremos em outro artigo, porém, via de regra, está voltado para um enfoque sintomatológico, comportamental e cognitivo, e, ao mesmo tempo, inclui uma orientação psicológica aos pais e/ou pessoas significativas da vida da criança.
Resumo baseado em TRATANDO AS DESORDENS DE ANSIEDADE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES (Philip C. Kendall. Tamar E. Chamsky, Michael Freidman, Ray Kim, Elizabeth Kortlander, Frances M. Sessa e Lynne Siqueland)
Fonte: KENDALL, P. C. (ed.) Child & Adolescent Therapy. Cognitive-Behavioral Procedures. New York, Guilford Press, 1991.
FONTE RESUMO: DENISE AMORIM RODRIGUES – NPCC.

 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Pais, filhos e "amigos virtuais" dos filhos

18/10/2011 - 06h00 Içami Tiba

Coluna do Içami Tiba

Sempre foi, é e deverá ser uma preocupação educativa dos pais saberem com quem andam os seus filhos.
Não tem como os pais tentarem terceirizar a educação dos filhos, pois educação é algo maior do que simplesmente amar de paixão, orientar, prover, agradar, ser amigo, perdoar, cuidar, ensinar, divertir, rezar, garantir a segurança, responsabilizar-se por eles. Educar é preparar hoje o cidadão do futuro.
Atualmente não é raro encontrar pais que delegam à escola a educação dos seus filhos. Quando um aluno “apronta” e a escola convoca seus pais para uma reunião, estes geralmente atribuem a responsabilidade à escola e cobram dela medidas educativas.
Pela Teoria Psicodramática, criada por Jacob Levi Moreno (1889-1974), os papéis são complementares ( pai/filho - mãe/filho - psiquiatra/paciente - motorista/passageiro - professor/aluno - avô/neto - avó/neto - patrão/empregado - chefe/subordinado - tio/sobrinho) ou idênticos ( amigo/amigo - colega/colega - irmão/irmão).
A única complementação biológica correta é a complementação pais-filho(s) e não professor/filho (mesmo que seja filho do professor, o papel complementar em ação é o professor/aluno) É esta complementação que a Lei segue e se não houver pai ou mãe, a Lei determina um adulto ou instituição que possa se responsabilizar por ele, enquanto for considerado menor ou incapaz.
Para corroborar este fato vem a realidade mostrando que quando um jovem por qualquer motivo vai à delegacia, ou pronto-socorro, ou necrotério, nenhum professor, nem diretor, nem motorista jamais foi ou é chamado. Os chamados são sempre os pais. ...e mais, filhos são para sempre enquanto para a escola o aluno é um transeunte curricular.
Portanto, não há saídas. A educação na formação de valores cidadãos é da responsabilidade dos pais. Os pais têm de controlar tudo o que os filhos recebem, seja o que for: alimentos, conhecimentos, pessoas à sua volta etc. Quanto mais vulneráveis, mais os filhos devem ser controlados. Quanto mais responsáveis, maiores autonomias terão. Não se entrega a direção de um carro pelo simples desejo de um filho querer dirigir. Assim também os pais têm que saber com quem seus filhos estão se relacionando - presencial ou virtualmente. Muitos pais fornecem Internet para seus filhos e autorizam-nos a usá-la livremente. Assim, os filhos recebem, na intimidade da sua casa, pessoas estranhas que se fazem conhecidas virtuais na intimidade de suas famílias. Não raro, estes estranhos ganham mais força que os seus próprios pais e pedem sigilo para suas ações nem sempre boas, ou melhor, geralmente, malévolas, pois para as boas não necessitariam de alianças sigilosas. É assim que pedófilos conseguem seduzir crianças que se escondem dos seus próprios pais. Eles se mostram muito mais agradáveis, afetivos, interessados, generosos, dedicados do que os adultos que têm em casa...
Não confundir negligência dos pais com o respeito à individualidade do filho. Soltar um incapaz no mundo virtual é o mesmo do que soltar uma criança sozinha numa feira livre, num festival musical, num circo em dia de apresentação...
Ser pai amigo é negligenciar a educação, negar ser guia, mentor e responsável pelo filho, pois não há complementaridade saudável no relacionamento amigo/filho nem pai(mãe)/amigo e se amigo tem amigo, filho tem que ter pai (mãe).

Içami Tiba

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros

Os pais devem cuidar dos filhos e também dos seus próprios pais

03/04/2012 - 12h47 Içami Tiba

Coluna do Içami Tiba

Este texto é carregado de humor, com cenas do cotidiano conhecidas pela maioria das pessoas, para aliviar o sentimento de culpa que uma geração carrega por ser responsabilizada pela má educação dos seus filhos. É o ponto alto das minhas palestras quando o tema é relacionamento familiar.
Quando pergunto à plateia de adultos, pais e professores: Quem, quando era criança, bastava o pai olhar para obedecê-lo imediatamente? A imensa maioria levanta a mão e em seguida começa um grande vozerio, isto é, muitas pessoas começam a falar com seus vizinhos.

Entenda as gerações

Veteranos
Nascidos aproximadamente entre 1920 e 1945
Baby Boomer
Nascidos aproximadamente entre 1946 e 1960
Geração X
Nascidos aproximadamente entre 1961 e 1980
Geração Y
Nascidos aproximadamente entre 1981 e 2000
Geração Z (ou M)
Nascidos depois de 2000

Então eu faço outra pergunta: e, quem de vocês, basta olhar para os filhos para que estes obedeçam imediatamente? Pouquíssimos adultos levantam a mão e, mesmo assim, não o fazem com muita convicção. A média varia entre 1 e 4%, pois conto nos dedos estes adultos.
Os filhos obedeciam seus pais pois estes eram machos jurássicos: paciência curta, voz grossa e mãos pesadas. Não havia filhos que resistissem a este autoritarismo. No almoço de domingo, macarrão e galinha que a mãe preparava, quem é que comia a parte boa, peito e coxas? O pai! Sobrava o que para os filhos? Asa e pescoço! O pai jurássico reinou desde a antiguidade até os “baby boomers”.
Os filhos dos boomers, geração X, que cresceram comendo asa e pescoço de galinha, estudaram um pouco, trabalharam bastante, casaram e tiveram filhos, os Y. Muitos deles são “self-made men”. No almoço de domingo, macarrão e frango, o X olhava para os filhos Y e pensava: Quando eu tinha a idade deles eu nunca comi peito e coxa, mas os meus Y vão comer peito e coxa. Assim, sobrou o que para o X? Asa e pescoço outra vez. E os X foram a geração sacrificada que sempre comeram asa e pescoço.
Os Y foram poupados, perdoados, amados, mas não educados porque foi a geração do tudo posso e nada devo, isto é, ganharam tudo de graça e não por meritocracia. Gastaram egoisticamente tudo o que receberam como se fosse mesada, sem responsabilidade nem sustentabilidade. Os Y não foram educados pelos X e não se capacitaram para educar seus próprios filhos, que hoje têm até 15 anos de idade e formam a geração M (multi-atarefados, multi-plugados, multi-etc.). Muitos Y necessitam de ajuda dos pais asa e pescoço para extras dos seus filhos M, cujos irmãos menores, de 2-3 anos de idade, já formam a geração Touch. Esta geraçãozinha já lida com iPads e tentam trocar de canal de televisão tocando nas telas.
Há boomers vivos necessitando de cuidados e pesam sobre os X. Os X não estão senis, mas quando forem, se ficarem em casa, talvez sejam esquecidos pelos Y e estorricados ao sol e pegarão pneumonia com os serenos das noites.
Os pais X que são idosos e alguns senis nunca permitiram e nem educaram seus filhos a cuidar deles. Não seria agora que os Y iriam cuidar dos seus próprios pais, mesmo que devessem, se ainda dependem deles principalmente quando não dão conta de assistências e finanças aos seus próprios filhos.
Muitos Y não aprenderam a cuidar dos seus pais, que sempre foram mais atendedores do que atendidos. Os X não ensinaram a empatia ao serem servidores, nem foram autoridades educativas. Os Y que não aprenderam a cuidar dos seus pertences e pessoas queridas poderão negligenciar seus pais ao esquecê-los a estorricar sob o sol. Não importam as razões, colocar os pais em clínicas é uma comodidade aos filhos que representa uma falta de apego e gratidão aos pais, pois a estes o que mais lhes mantêm vivos é ficarem em casa e receber os amigos de longa data e os netos. Clínicas ou asilos podem representar o passo prévio ao cemitério.

Içami Tiba

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros

Laços familiares podem ser fortalecidos durante as refeições

21/03/2012 - 16h55 Içami Tiba

Coluna do Içami Tiba

As mães e pais responsabilizam-se por alimentar seus filhos. Sem estes cuidados os filhos não conseguiriam sobreviver. Os mamíferos aproveitam as horas da amamentação para cuidarem das suas crias. Bebês humanos que não receberem carinho junto com o leite materno ou substituto entram em depressão e podem morrer com menos de um ano de idade.

Numa família tradicional existia uma divisão de tarefas, sendo o pai o provedor e a mãe a “rainha do lar”, isto é, cuidar da casa e da educação dos filhos. Este esquema sofreu alterações com a emancipação da mulher, mas basicamente as ligações afetivas permanecem muito semelhantes. A vida dos humanos melhorou quando se consagrou os horários para as refeições, pois é uma das poucas atividades obrigatórias do dia a dia feita com toda a família unida.

Na vida pós-moderna, com o pai e a mãe trabalhando fora, tornou-se difícil o “almoçar juntos”, o que piora quando os filhos frequentam escolas em períodos diferentes, ou estudam longe de casa. Mesmo o jantar durante a semana está bastante comprometido pelas dificuldades dos familiares de não estarem fisicamente juntos e, mesmo quando juntos, por um ou outro familiar, por diversos motivos, não poder jantar exatamente no horário estabelecido. Com um grande número de pais separados e recasados, e cada um dos cônjuges trazendo, constante ou esporadicamente, os filhos do(s) antigo(s) casamento(s), a reunião de todos em torno de uma refeição fica praticamente impossibilitada.

Atualmente existe um descaso sobre as refeições com a participação de todos os familiares. Grande parte dos “internetados”, telespectadores, “videogamistas”, principalmente jovens, interessa-se mais pelas suas atividades individuais do que pela reunião da família, por não ter o hábito de tomarem as refeições juntos. A falta de conhecimento da importância da reunião familiar faz com que não se use este costume desde que a criança nasce.

Uma refeição não é somente um nutrir o corpo, mas também um alimentar o relacionamento familiar, a integração dos seus membros, de modo a formar fortes vínculos afetivos entre si, tornando um colaborador de outro, tornando a família uma fonte de prazer e ajuda e não de uma obrigação desagradável numa convivência horrível de cobranças e acusações mutuas. A reunião familiar em torno do agradável momento de comer, que também alimenta a alma, está fazendo falta nesta sociedade.

Algumas famílias sentiram esta falta e decidiram marcar noites para jantar em frequências que atendessem as necessidades sem saturar. Há famílias que escolhem um determinado dia do mês e todos se organizam para nesta noite jantarem juntos, geralmente em casa, quase um jantar festivo, enquanto outras marcam semanalmente.

Recomendações minhas para estes jantares festivos:

- Não é hora para broncas, mal humores, advertências, ameaças, ofensas, agressões e cobranças ou quaisquer outros pensamentos, sentimentos e/ou ações negativos;

- É hora de olharem-se nos olhos uns dos outros e posicionarem-se em atitudes de ajudas mútuas;

- Fazer da comida os temperos das conversas, para que cada familiar sinta o seu gosto preferido em toda a refeição;

- Que as conversas sejam muito mais lembradas que as comidas e que estes jantares festivos sejam os temperos da vida familiar.

Içami Tiba

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros

Alunos de Alta Performance

07/03/2012 - 10h51 Içami Tiba

Coluna do Içami Tiba

Alta Performance é um conceito criado por mim que se baseia em: 1. ser ético; 2. fazer o melhor possível; 3. pensar o melhor possível e 4. comparar seus resultados com os dos outros.

1. Ser ético: O ser humano tem o poder da decisão da maioria dos seus atos. É ético quando o caminho escolhido é o certo e do bem, e não ético quando é incorreto e do mal. A criança desenvolve este poder a partir da educação que recebe dos pais ou substitutos.

2. Fazer o melhor possível não pode ser confundido com o “fazer o que está acostumado”, pois ninguém sente falta do que não conhece. É não fazer desperdícios de pessoas, tempo e material.

3. Pensar o melhor possível: Para seres racionais como o ser humano, a riqueza está na educação, na qualidade e quantidade dos pensamentos, construídos pela educação.

4. Comparar o seu resultado com o dos outros. É o caminho percorrido e o resultado obtido que mede o efeito das ações. O conceito melhor é uma qualificação entre outras ações semelhantes. Esta medida somente existe quando se compara os resultados obtidos pelos outros.

Assim, um aluno para chegar à Alta Performance tem que receber as melhores aulas e orientações educacionais e desenvolver dentro de si os seus valores.

Hoje, sabemos que a educação de uma criança depende do que ela recebe dos seus pais em casa e das aulas que recebe na escola. A primeira tem a finalidade de educação familiar e a segunda, socialização comunitária ou educação formal. Os pais não substituem a escola, nem o inverso é verdadeiro. A criança depende dos dois: pais e professores.

Nunca se falou tanto na parceria pais e educadores na educação dos alunos. As pesquisas batem em todos os países: quando os pais acompanham os estudos dos filhos, estes melhoram muito o seu rendimento escolar. Há décadas que luto por uma educação melhor, pois a política educacional brasileira não cumpriu a sua parte educativa nas escolas. Um exemplo dos mais gritantes foi o da aprovação sistemática, sem um mínimo de meritocracia. Recebiam-se diplomas por presença física e não por competência e, assim, saíram milhões de analfabetos funcionais... Suas consequências imediatas foram: falta de preparo de uma geração por ter baixa performance, desrespeito aos professores, escola e Educação.

Não há parâmetros fáceis de serem utilizados para se medir a educação familiar como há na escolar. A escola é uma organização que tem uma programação, hierarquização, medidas de resultados, critérios de avaliação etc. Os professores podem receber preparos especializados em atendimentos a pais. Os pais têm que aprender a serem educadores familiares. Nada mais justo que os que sabem mais e estão mais organizados que ensinem aos perdidos e atônitos pais quando um filho não quer estudar...

Vários pontos têm que ser abordados na parceria pais e educadores para a educação de uma criança:
- Aplicação da meritocracia na escola e em casa;
- Quando o pai diz vinho, a escola diz água, a criança “disanda” (licença literária do desanda)... O princípio de coerência, constância e consequência tem que ser seguido por todos;
- Estudar é uma obrigação onde não cabem acordos nem negociações;
- Lição de casa é uma obrigação diária que tem que ser verificada e, se necessário, cobrada pelos pais diariamente;
- Os pais devem acabar com o decoreba de véspera de provas, pois isso não é aprendizado consistente;
- A eficácia tem que ser estimulada, ensinada e cobrada: sem desperdícios de pessoas, tempo e material;
- Os pais e professores são parceiros na educação e não inimigos. Parceria significa ajuda mútua e inimigos, destruição mútua.

Mais dicas sobre esta parceria encontram-se no meu mais recente livro "Pais e Educadores de Alta Performance", Integrare Editora, 2011.

Içami Tiba

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros

Devo deixar meus filhos jogarem games violentos?

22/09/2011 - 16h41 Içami Tiba

Coluna do Içami Tiba

Uma criança que já tenha seus valores próprios adquiridos pela educação praticada pelos seus pais e escolas, talvez não se tornasse violenta, ou se tornasse, não seria tão rapidamente, pois aprenderia a estabelecer a diferença entre a violência dos games e da vida real. Mas se ela cresce em um meio familiar, escolar e social já violento, ela pode acreditar que a violência é um valor a ser desenvolvido para poder sobreviver. Para esta, a violência dos games seria facilmente passada para a violência da vida.
No Japão, cuja educação e cidadania do povo atraíram as atenções do mundo quando ele enfrentou o terremoto e o tsunami em março deste ano, praticamente a maioria das crianças joga os games contendo violência, como em qualquer parte do mundo. Nem por isso aumentou a violência entre as crianças, como ocorre no Brasil.
Se as crianças de ambos os países, Brasil e Japão, brincam com os mesmos games violentos, no Japão também as crianças deveriam ser violentas, mas não as são. Por que? Uma das grandes diferenças está na educação, e nos países onde os valores como empatia, respeito ao próximo, e responsabilidade social não são ensinados pelos seus pais e escolas às crianças desde a mais tenra infância, quando então aprendem o hedonismo egoísta, que é a realização das suas vontades prazerosas sem custos, pois quem os paga são os educadores e não elas.
A empatia, o que se sente pela outra pessoa, é um valor fundamental que faz parte da cidadania a qualquer humano que viva em sociedade, deve ser ensinada pelos pais em uma educação orquestrada. Cada vez que os pais ficam contrariados, desobedecidos, frustrados, felizes, realizados e/ou qualquer outro sentimento forte, é muito importante que seja dado feedback aos filhos, para que estes aprendam o que eles provocam nos seus pais. Pais que se calam não ensinam aos seus filhos o que eles provocam nas outras pessoas. Piora muito a violência e a depredação ambiental a falta de empatia para quem as sofre.
Na violência gratuita, comum nos games, o prazer em matar e destruir tudo à volta é egoísta e além de não aparecerem os sofrimentos das vítimas, dos seus familiares e amigos nem os custos das destruições provocadas pelo violento, ele ainda é premiado.
Há tempos, talvez uns 30 anos, vi em uma tira de humor de jornal, cujo autor não me recordo agora, esta sequência: 1º quadro: muitas pessoas entrando, portanto de costas para o leitor, num cinema, cujo imenso cartaz trazia um caubói parado, de frente, com os joelhos curvados para fora, como se andasse a cavalo, com um revólver de cada lado com as mãos afastadas, como se estivesse pronto para atirar primeiro, num duelo de vida ou morte... 2º quadro: dentro do cinema, o mocinho na tela na posição acima descrita e na platéia, aparecendo somente as nucas da platéia... 3º quadro: todos os homens saindo de pernas abertas como se estivessem com revólveres em seus coldres e prontos para sacá-los antes do seu rival, o bandido...
Se a criança já é mais agressiva, impulsiva, explosiva, gritona, mal-educada, não respeita regras sociais de convivência, menos empática, sem suportabilidade às mínimas frustrações e absorvedora de comportamentos inadequados à sua volta, como os da tira acima citada, os games violentos somente pioram o comportamento dela. Portanto, os pais têm que controlar e não deixar passar nada que piore seu comportamento, principalmente as atividades interativas como são os games violentos.

Içami Tiba

Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros

sábado, 12 de maio de 2012

Sobre os Filhos...



E uma mulher que carregava o filho nos braços disse:
"Fala-nos dos filhos."
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convos
co, a vós não pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda sua força,
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável...

Kahlil Gibran

FELIZ DIA DAS MÃES!!!!


 

SEGUE ABAIXO O LINK DO INTERESSANTE DOCUMENTÁRIO NAT GEO VIDA NO VENTRE: HUMANOS


 

http://www.mundofox.com.br/videos/view/8711483001-vida-no-ventre-humanos

 

 


 



terça-feira, 8 de maio de 2012

A criança e seu processo de compreensão da morte


Meu filho está passando por uma fase delicada com relação a palavra "morte". Por mais leitura que eu tenha apreendido sobre o assunto, é complicado falar e discutir. São questionamentos que permeiam a nossa cabeça de mãe e reforçam a crença de que "evitar falar...é poupar o sofrer". Mas nós, profissionais da psicologia, sabemos que isto não é verdade!

FRASES DITAS POR MEU FILHO JV NESTAS ÚLTIMAS SEMANAS:
"Quando morremos vamos para onde?"
"Quando morrer vou te encontrar?"
"Será que iremos nos ver novamente em outra vida?"
"Não consigo parar de pensar na morte!"
"Olho para vocês e tenho vontade de chorar!"
"Não conseguiria viver sem vocês!"
"Meus olhos estão sempre em lágrimas, pois imagino a morte como um corredor escuro!"
"Vi um filme que o filho morre e encontra seus pais num túnel..."
"Quero que a morte seja igual ao filme!"

A criança e a morte - A psicóloga Maria Cristina Capobianco dá dicas aos pais e professores de como se deve conversar e ajudar a criança a entender o processo da morte

A cada idade os recursos que uma criança tem para compreender os fenômenos que acontecem na sua vida são diferentes. Estes recursos variam e dependem de vários fatores, entre eles, sua maturidade e sua percepção do mundo a sua volta, sua história de vida, a forma como os pais e a escola lhe passam a informação e as crenças religiosas de seus pais.

Cada criança se desenvolve num ritmo singular e é importante lembrar que os pais conhecem seu filho e precisam guiar se por sua percepção e intuição que tem em relação a momento da criança no processo de crescimento.

A psicóloga Maria Cristina Capobianco explica que as pessoas ao falar da morte com uma criança temem trazer a tona ou provocar um sofrimento desnecessário e muitas vezes preferem esquivar-se das perguntas que as crianças têm a respeito deste tema. Existe a crença de que se não se toca no assunto, haverá menos sofrimento. “Muito pelo contrário, se não damos a chance à criança a falar dele, a expressar sua curiosidade, estamos deixando-a só com seus receios e fantasias. Esta solidão e falta de informação objetiva pode despertar um maior sofrimento”, afirma a terapeuta.

Dos 9 aos 13 anos:

Com o  passar do tempo a criança tem mais recursos mentais e emocionais para compreender as causas da morte. Agora se preocupa com o fato de como vai mudar sua vida com a perda da pessoa, do relacionamento. Apresenta resistência a se abrir e falar de suas emoções. No inicio pode parecer que ela não se importa com o que aconteceu, que ignora os eventos, que faz de conta que não houve morte. Os sentimentos de angústia e tristeza demoram a aparecer, e ela pode ter uma tendência a se isolar. Começa a mostrar interesse em rituais religiosos. Nesta fase se for um dos seus pais que faleceu, a criança pode querer assumir as responsabilidades do falecido e tomar seu lugar para ajudar e aliviar a tristeza de quem ficou. Isto se torna um peso e causa de futuras somatizações e conflitos.

Estimule a discussão sobre o tema da morte, tanto em casa como na escola. Aproveite mortes de outros, pessoas famosas, conhecidas para mostrar como estes processos são parte da vida. Ofereça modelos de pessoas que passaram por momentos difíceis. É importante ser paciente com as crianças se resistem a fazer suas lições de casa, se apresentam distraídos ou desligados, tente compartilhar seus sonhos e fantasias. Ajudar os filhos ou os alunos a superar as dificuldades, mesmo na tenra infância é tarefa de pais e educadores, pois desta forma eles poderão oferecer meios para que as crianças construam seus recursos internos para enfrentar as dificuldades do mundo adulto e tornarem-se pessoas com capacidade para lidar com suas emoções e criar a empatia para lidar com as dos outros.


Esta animação demonstra como se dá os Cinco Estágios Da Morte ou Da Dor ou Da Perda. Trata-se de um modelo elaborado pela psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross



domingo, 6 de maio de 2012

Transição entre infância e adolescência pode gerar o medo de ser rejeitado


Por Daniela Dal-Bó Noschang, psicóloga e consultora de escolas infantis e Solange Lompa Truda, psicóloga.

09-04-2012

Dos nove aos 12 anos, essa é uma das questões que mais atormentam as crianças. É um período complicado de transição, no qual o corpo está se transformando. Ele cresce de forma desigual, pelos surgem, acnes e espinhas irrompem, emoções transbordam. No meio do caminho entre a infância e a adolescência, o indivíduo vive uma crise de autoimagem. Olha no espelho e não se reconhece. O medo típico desse período é o da rejeição social.
O temor é tal que se refletiu nesta reportagem: foi difícil encontrar alguém que aceitasse aparecer como personagem. O fantasma do estigma é muito grande.
- A própria criança está se estranhando. Às vezes se isola para não ser vista. Ela pode manifestar essa situação como medo. Pode temer que o professor pegue no pé ou que os colegas não queiram mais ser seus amigos - diz a psicóloga Solange Lompa Truda.
Normalmente, o medo de rejeição está relacionado à baixa autoestima. Ele começa a preocupar quando traz consequências físicas, emocionais e de comportamento. A psicóloga Daniela Dal-Bó Noschang aponta sinais como dores (de cabeça ou barriga), choro, irritabilidade, tristeza, retraimento ou agressividade.
- Os sintomas são uma resposta à demanda que não é atendida - diz ela.
Nessa crise de identidade, a criança também tende a formar grupos fechados dentro da escola. Cada um se une com os amigos em quem se projeta. E rechaça os outros. Essa situação tem um subproduto problemático, o bullying.
- Como não estão conseguindo lidar com emoções de forma equilibrada, as crianças começam a entrar em disputas e agressões - diz Solange.
Dicas para os pais
Como ajudar as crianças que estão assustadas com a rejeição social:
- Aceite que seu filho está em uma etapa complicada do desenvolvimento
- A família tem de estar próxima da criança e saber quem são seus amigos. Deve estar atenta para situações em que um grande amigo deixa de sê-lo, o que pode ser sinal de alguma coisa mais séria
- Não se deve menosprezar o medo de rejeição, nem supervalorizá-lo
- Em caso de dificuldades de relacionamento com outras crianças, não tente resolver o problema pelo seu filho. Mostre para ele o que pode fazer e ofereça ajuda
- Se a criança está com dificuldade para se integrar no grupo, favoreça contatos e incentive convites
- Esteja atento ao que a criança fala. Se ela diz que tem medo de algum colega e por quê. Pode ser uma situação mais complicada
- Quanto mais alterado seu filho estiver, mais séria tende a ser a situação. Nem sempre se trata apenas de medo. Às vezes a rejeição é real. Nesse caso, procure ajuda profissional.

Fontes: DC.