sábado, 14 de abril de 2012

The Bully Project



Documentário ''The Bully Project'' foca em um assunto delicado: os problemas de bullying nas escolas. O filme acompanha a vida de algumas crianças e de suas famílias afetadas pelo problema. O stress das crianças vítimas de bullying e a frustração de pais estão entre os assuntos abordados. A direção é de Lee Hirsch. A produção compete na categoria de documentários do Festival de Tribeca 2011

SEGUE ABAIXO, UMA ENTREVISTA INTERESSANTE COM TÂNIA ZAGURY

Bullying: do conto infantil à tragédia social


Para investigar uma das modalidades de violência que mais cresce e ameaça crianças em todo o mundo, a convulsão social bullying, o Conexão Professor entrevistou a Professora Tania Zagury, que, além de tratar o fenômeno em seu acervo literário, é também filósofa e mestre em Educação. Autora de, entre outros, Limites sem Trauma, Educar sem Culpa e Encurtando a Adolescência, Tania procura alarmar familiares e pedagogos para a emergência na detecção e no tratamento do problema. Confira aqui a entrevista:
Conexão Professor (CP) - Que contexto potencializa o bullying?
Tania Zagury - Ambientes altamente competitivos; sociedades individualistas que desprestigiam a racionalidade, o saber e os valores humanos; famílias onde a injustiça, as agressões físicas ou nas quais a tônica é a falta de autoridade dos pais são fatores que, conjugados, favorecem o aparecimento do fenômeno. O bullying compreende todo o tipo de agressões , intencionais, repetidas e sem motivo aparente, que um grupo de alunos adota contra um ou vários colegas, em situação desigual de poder, causando intimidação, medo e danos à vítima. Pode apresentar-se sob várias formas, desde uma simples "gozação" ou apelido (sempre depreciativo), passando por exclusão do grupo, isolamento, assédio e humilhações, até agressões físicas como chutes, empurrões e pancadas. Pode incluir também roubo ou destruição de objetos pessoais. Portanto, uma briga entre dois alunos, no pátio da escola ou na hora da saída, não caracteriza bullying, que ocorre sempre numa situação em que a vítima está em desvantagem física e/ou emocional. É importante esclarecer que não é fenômeno novo, embora atualmente venha se tornando mais violento e, em alguns casos, acabando de forma trágica, dada a facilidade de aquisição de armas e à exposição excessiva e enfática que a mídia dá a casos semelhantes, especialmente quando envolve indivíduos com forte labilidade emocional.
CP - É possível traçar o perfil de um potencial agressor e de um potencial agredido?
Tania Zagury - Em geral, os agressores são pessoas com pequeno grau de empatia, oriundos de famílias desestruturadas, ou que não trabalham adequadamente a questão dos limites, nas quais não há bom relacionamento afetivo ou em que a agressão física é comumente utilizada como forma de solucionar conflitos. Já as vítimas são, em geral, pessoas tímidas, sem muitos amigos, introvertidas e pouco sociáveis, com baixa capacidade de reação a esse tipo de situação. São geralmente inseguras, têm baixa auto-estima e pouca esperança de conseguir ajuda por parte de colegas ou dos adultos responsáveis por elas. É bom ressaltar, porém, que, em se tratando do ser humano, nem sempre as coisas ocorrem de forma tão linear, nem são totalmente precisas.
CP - Como detectar e tratar o distúrbio?
Tania Zagury - A detecção é difícil, porque o bullying é sempre praticado de forma dissimulada, em locais em que seja difícil a visualização do que está ocorrendo ou em momentos em que os adultos não estão presentes ou se distraem momentaneamente. Portanto, o que de melhor se pode fazer é criar redes de proteção aos que presenciam ou sofrem tais agressões, de forma que se sintam seguros para denunciar o fato sem se sentir em risco, ou seja: é preciso trabalhar preventivamente, criando redes de proteção para estimular e reforçar a possibilidade de denúncia. Trabalhar de forma a deixar claro para toda a comunidade que haverá sanção aos agressores intimida bastante e costuma diminuir o percentual de ocorrências, enquanto que a impunidade, pelo contrário, estimula e faz aumentar a incidência.
CP - Quem deve estar atento e pode ajudar?
Tania Zagury - Quanto mais se estuda o assunto, mais claro fica que, tanto os educadores nas escolas quanto a família devem agir de forma proativa e assertiva. A intervenção dos adultos e a atenção ao problema devem ser estimuladas em todos os níveis. De preferência, criar e divulgar os mecanismos disponíveis para que as vítimas potenciais e os expectadores (são os que já presenciaram casos de violência contra colegas) sintam-se fortalecidos e estimulados a apontar os agressores.
Conexão Professor (CP) - O que explica o maior ou o menor número de casos dentro de uma instituição escolar? Onde mais o distúrbio pode se manifestar?
Tania Zagury - Quanto maior a certeza de impunidade, maior a freqüência de ocorrências. O problema é mais freqüente nas escolas, mas pode ocorrer também em clubes, condomínios ou quaisquer outros locais freqüentados com certa regularidade por crianças e adolescentes, de forma tal que permita os grupos se formarem e as vítimas potenciais serem detectadas pelos agressores.
CP - Que comprometimentos emocionais a criança pode desenvolver a partir do bullying? De que forma o distúrbio interfere na construção psicológica dos envolvidos?
Tania Zagury - A longo prazo, o bullying - se não combatido de forma eficaz - pode levar à sensação de impunidade e, conseqüentemente, a atos anti-sociais, dificuldades afetivas, delinqüência e crimes graves. Pode também levar a atitudes agressivas no trabalho, na escola ou na família. De repente, aparentemente sem causa específica, um jovem entra numa escola, matando e ferindo. Não estou afirmando que o bullying é sempre ou unicamente a causa ou a origem dos assassinatos em massa cometidos por jovens, mas parece haver ligação entre os dois em vários casos - o que torna essencial tomarmos em nossas mãos a prevenção do problema. Mesmo não chegando a extremos como este, a violência gratuita e covarde precisa e deve ser combatida com firmeza.
CP - Que tipos de discriminação levam à violência entre as crianças?
Tania Zagury - Tudo e nada ao mesmo tempo: qualquer diferença individual ou social pode ser motivo de perseguição. Por exemplo, uma criança gordinha ou muito baixa; mais escura ou muito clara; sardenta ou ruiva; mais alta do que a média; dentuça ou a quem faltem dentes... Enfim, aquelas que se diferenciam da média. Pode ser também o mais bonito, o mais "paquerado"; o que tem mais roupas ou é admirado pelos professores, o que só tem notas altas. O bullying é mais freqüente entre meninos; entre as meninas assume forma diferente: em geral, a exclusão ou a maledicência são as armas mais comuns.
CP - Que medidas devem ser adotadas diagnosticado o distúrbio?
Tania Zagury - Nas escolas, sugiro algumas medidas importantes:
- Treinamento para instrumentalizar todos os que lidam com alunos, no sentido de estarem atentos e aptos a perceber tentativas de intimidação ou agressão entre estudantes. Para tanto, é preciso conhecer sinais, perceber sintomas e atitudes que caracterizam vítimas e agressores;
- Segurança e clareza do corpo técnico sobre medidas para intervir adequadamente;
- Assegurar, através de exposição clara nas turmas, que tanto vítimas como expectadores terão sempre a proteção e o anonimato garantidos;
- Implantar um esquema institucional de responsabilização para os agressores, de preferência não excludente, mas no qual agressores arcarão com as conseqüências de seus atos.
- Procurar revestir as sanções de caráter educativo; excluir pura e simplesmente não forma consciência, nem transforma agressores em bons cidadãos.
- Fortalecer os que sofrem ou presenciam o bullying, oferecendo canais de comunicação que garantam a privacidade dos que se disponham a falar;
- Treinar a equipe da escola (em todos os níveis), de forma a adotar forma única e homogênea de agir nesses casos, para que todos se sintam protegidos: corpo técnico, alunos-vítimas e expectadores (só assim o silêncio se romperá);
- Incorporar ao currículo medidas educacionais formadoras, a serem trabalhadas por todos os professores, independentemente da matéria, série ou grupo, dando-se especial ênfase ao desenvolvimento de habilidades sociais tais como: saber ouvir; respeitar diferenças; ter limites; saber argumentar sem discutir ou agredir; ser solidário; ter dignidade; respeitar o limite e o direito do outro etc.
Na família, por outro lado, a ação dos pais ou cuidadores deve focar:
- a questão dos limites;
- a formação ética dos filhos;
- a não aceitação firme do desrespeito aos mais velhos e/ou mais fracos.
Isto é, a família deve reassumir o quanto antes o seu papel de formadora de cidadãos, abandonando a postura superprotetora cega e a crença de que amar é aceitar toda e qualquer atitude dos filhos, satisfazer todos os seus desejos, não criticar o que deva ser criticado e nunca responsabilizá-los por atitudes anti-sociais.
CP - Videogames e filmes violentos podem gerar na criança a assimilação de práticas agressivas, funcionando como motores do bullying?
Tania Zagury - Estudos recentes mostram que há correlação positiva entre agressividade e número de horas que as crianças ficam em frente da tevê, assistem a filmes violentos ou jogam videogames com temática violenta. Quer dizer, quanto mais tempo e mais precocemente começam, maior probabilidade de incorporarem como naturais e aceitáveis atitudes agressivas ou violentas. Alguns estudos detectaram, inclusive, mudanças de comportamento em crianças pequenas, poucas horas depois de expostas a programas com esse tipo de conteúdo. De qualquer forma, é importante saber que nem toda brincadeira agressiva irá "obrigatoriamente" gerar atitudes de bullying, mas é importante alertar que não se pode ignorar e que nos remete, mais uma vez, à questão dos limites que, tanto pais como docentes, precisam desenvolver nas novas gerações.
FONTE: CONEXÃO PROFESSOR RJ/GOV/BR

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